Na senda das tertúlias de antigamente, estes serão encontros informais, para conversarmos sobre livros e leituras, para lermos em voz alta, para ligarmos a literatura a outras artes. Enfim, para partilharmos emoções, palavras, experiências.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Um delicioso petisco literário - crónica de Francisco José Viegas


A Isabel Alves deixa-nos um excelente exemplo de um delicioso petisco literário:


- ANCORADOURO -
(Excerto de uma crónica de Francisco José Viegas)
O Ancoradouro, em Moledo, é uma referência fundamental para o nosso apetite. Simplicidade que comove, generosidade na mesa, simpatia absoluta. Uma grelha abençoada à beira do mar do Minho.

“(….) Da última vez que passei no Ancoradouro, dividimos um costeletão e uma posta barrosã. Éramos quatro. Não quero, como nosso amado Camilo escrevia, referir-me à refeição para que ela seja «reedificada com adjectivos pomposos e advérbios rutilantes». Basta o essencial: foi um momento de altíssima metafísica.
Depois de a alheira passar junto das pituitárias e de ser recebida e devorada com aplauso e proveito, vieram então a posta e o costeletão. Eu sou adepto deste último, que vem até à mesa sem cambalear, golpeado para apenas mostrar de que frescura é feita aquela carne, rescendendo a alho, a azeite e a uma leve acidez que poderia ser de limão, mas não é.
Em procissão, e ainda debaixo do pálio, vinha uma caçarola de barro com arroz de feijão e grelos e uma outra, mais baixa e redonda, repleta de grelos de couve ou, como se diz apropriadamente no Norte, de espigos.
«Suavíssimo arranjo!», riu João da Ega, o dos Maias, comentando o caso de Carlos da Maia e da senhora condessa de Gouvarinho. Pois a este conjunto à mesa do Ancoradouro apenas faltava o perfume de verbena da senhora condessa antes de ir em devoção ao Senhor dos Passos. O resto estava tudo lá: a tentação, a luxúria, todos os pecados – acumulando-se uns sobre os outros, chamando por mim das labaredas do Inferno.
Quando pedi uma cerveja (o vinho do Douro tinha já partido e eu ainda não tinha provado a selecção de verdes tintos) para repousar, antes da sobremesa, lembrei-me da enumeração: crepes de doce de morango caseiro, de banana, chocolate, mel e baunilha; depois, sorvete de limão, manga e framboesa; depois, ainda, leite-creme queimado, claras em castelo com chocolate ou com doce de ovos, creme de castanha com natas ou bolo de chocolate. Fantástico. Desisti. Pedi o mesmo de sempre: queijo com doce de abóbora.
Sim, depois bebi um whiskey e tomei dois cafés. E lá fui até à beira do mar, sentar-me e suspirar. Era o meu ancoradouro.
Março 25, 2006

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Jantar Literário 18 de Julho


Ao longo destes 9 meses de Quartas com Letras, partilhámos o prazer da leitura e saboreámos as palavras de muitos autores portugueses e estrangeiros. Agora que as férias estão a chegar, antes da nossa pausa de Agosto, gostaríamos de vos convidar para um encontro diferente, em que uniremos o gosto pela leitura ao prazer da boa mesa, num Jantar Literário, no dia 18 de Julho de 2012, às 20:3o, na sede da Quadricultura. 
Cada participante deverá trazer um petisco gastronómico e outro literário (poema, conto, crónica, excerto ou livro que fale de comida) para partilhar com os restantes tertulianos. De modo a podermos construir um verdadeiro menú literário - com entradas, pratos principais, sobremesas, bebidas, etc - que consubstancie a memória deste nosso encontro, pedíamos o favor, e agradecíamos desde já, que confirmassem a vossa presença e nos informassem acerca do que trarão. Se tiverem dúvidas, ou vos faltar a inspiração, não hesitem em contactar-nos.